quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

DIA EM MAIO


Amo dias frios. Abro a janela e o vento sopra a chuva pra dentro de mim. Amo as palavras, elas dedicam um tempo ao fim, fecham em si mesmas o que o tempo e a vida deixam abertos, rastream no círculo dos anos as mudanças, as lembranças, as lacunas de sim e de não, a homeopática solidão de dias diversamente perdidos em anos contrários, a confusão . Hoje o poeta traduziu “dia branco”, eu não sei o que isso significa, mas tênue luz se incorpora, penso nos amores de outrora, na lucidez das horas doces, na delícia aflita de desejos incontidos, na pulsação de ventres como o mar revolto, chuva cai resoluta, imediata, desafiando tudo que não pode ser, diálogos escritos ao contrário, temerário paladar.
Escrevo hoje por ti, não para ti, escrevo por dias vagados entre lojas e sonhos de consumo e compromisso, de ilusão e saudade, escrevo para aplacar essa saudade de te ser comum, idônea, gentilmente pessoa, cidadã do universo, quase ausente em tua história. Te escrevo porque por agora o dia cala, a noite que não veio ainda virá comovida embebedar-me. Escrevo por amar-te e o teu rosto disposto em sonho, do que vivi e não sei se vivi, pois acordada ainda durmo à tua espera ...

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