segunda-feira, 17 de outubro de 2011

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Da escova e mil e um motivos...

Menina, falavam-me de coisas que não entendia, e ainda assim, duvidando, cumpria em cumprir...

Ao áspero sol das noites do sertão, mesmo com lua, ventava calor, e eu vestia aborrecida a camisola, para que o meu anjo da guarda não deixasse de me visitar, e cumpria o ritual de antes de dormir, não deixar por si nenhuma roupa virada aos avessos, nem sequer as chinelas, que tutelas, poderia invocar uma má sorte.

Desenho de noites sem fim, orar na cama e agradecer a tudo e sem porquê, adormecer nos braços fortes de um deus que me guardava, insone.

Também pela manhã não entendia, tantos outros impossíveis rituais se repetiam, escovar os dentes depois de uma noite vazia, fez-me sentido apenas quando adulta e amante, para o amor de antes, a boca escovada, cheirando a pasta mentolada, alecrim, boca de marfim...

E dos banhos, o que falar? Ao acordar, antes do almoço, antes do jantar, na hora de dormir, de tanto me banhar, obedeci a gostar de água, de chuva, de rio, de mar, de cachoeira, de saliva, de água para lavar.

Desde aí passei a executar tão louco hábito de me banhar, a qualquer hora e em qualquer lugar, cumprindo fisicamente um hábito já há muito acostumado na alma...

Por tempos então venho assustando uma pequena multidão que incompreende a minha vontade de água, de estar limpa, pura, fresca e talvez corrente, com gotas agarradas à pele de formas insistentes.

E com melancólica surpresa, respondo às belezas que maiores que eu mesma, me dilaceram em rituais, como não dormir nua e ser forjada da presença do meu anjo, ou de por sorte tola abnegar a razão e descartar em vão a incerteza do azar, de sandália e roupas contrárias, ou de louças delirantes na pia, a esperar pelo escorregar da água que irradia e limpa.

Não me respondem mulheres, homens, crianças, médicos, dentistas- talvez os artistas- que como eu, cedem ao punhado de ante-escolhas para fazer outras ou se justificar naquelas mesmas perdidas lembranças. Heranças inexoráveis da socialização, da infância não tão perdida e ainda guardada, absorvida.

Donde, sem fim, abnego-me a mim, da escova e dos mil e um motivos... para esfregar dentes, pele, louça e catar nas poças as coisas perdidas e falar palavras inauditas, que nem eu mesmo possa um dia as compreender, flutuantes, naufragadas entre antes e o agora.

Reservo-me à escolha pueril de te dedicar inocentes e frugais palavras...Irney, meu amigo Rosa, em que inspiro e componho minhas pequeninas bobagens... Obrigada por isso!!!!

Nereida

terça-feira, 19 de abril de 2011

Uma tarde no Porto


Bebera um cálice e meio de vinho,
para pensar nesse homem,
casto e puro,
sem poesia.
Que não sabia o que fazer do seu dia
e ainda assim a deixara
vertiginosamente abalada.
Entrara-lhe pelas partes virgens,
pelas origens,
pelo desejo delicado.
Entrara-lhe pelos poros, pela boca,
pela roupa,
pelo sono suave a seu lado.
Não tinha nada para dizer ou acrescentar,
sua plenitude era ser e estar.
Como um copo vazio à beira do mar,
ondas, espumas e vagas ...
Mas seu corpo era redemoinho de prazer,
e ao tocar, tudo voltava.
Não sei nada sobre esse homem,
sua casa, codnome, sua flor exata, seu perfume,
seu delírio.
Sei apenas do seu brilho, suntuoso e menino.
Como meninos fôramos adolescentes
na entrega dos corpos,
no morrer da alma.
Se é triste ou feliz,
não sei,
compõe-me interjeições!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Sua pele macia, seu corpo claro como o dia,
misterioso como a noite.
A mim, nada pedia,
senão a sinestesia do toque, lento e profundo,
do conhecer mais antigo que há no mundo.
Em cada enseada,
uma volúpia,
meu corpo despido,
sentiu novamente a luta.
De corpos despidos,
de desejo, de beijo,
de vinho, de banho,
de cama, de manha.
O imperador de nome assustador,
não sei o que em mim viu,
talvez não viu nada,
e cego, manhã e madrugada,
se permitiu.
Um homem raro,
um doce,
um extravio.
Para dias tão tensos e fortes que se inflamam
cotidianos no meu rio.
Um homem gentil,
uma delicadeza,
uma beleza posta à mesa.
Um amante,
um amador,
um homem de praia
e de cor.
Um homem cachoeira e fogueira.
Uma tentação.
Entorpecidos de vinho e tesão,
burlamos as horas,
fizemos história de pele
e repetição.
Nereida

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

O silêncio, a vida e a morte ou quem tem uma amiga é quem entende...

Devo confessar-lhe que ao ler o seu texto fui tomada completamente pelo silêncio. O silêncio não como algo ruim, mas como um exercício de montanha, íngrime em mim mesma. Também em silêncio sorri e chorei e estive por instantes no velho sobrado amarelo que ainda não conheci. Viajei também em nosso passado, colegas da universidade, e quando pela primeira vez vi uma menina-mulher falar com tanta paixão de futebol, e eu, com olhos laços apenas admirava, admirava e veja, ainda admiro...
Não posso esquivar-me também de dizer o quanto fico exaustivamente contente ao perceber tua maturidade, e como na poesia do teu modo de existir, vais percebendo que não há diferença entre viver e morrer, e sim entre esquecer e lembrar. De escanteio imagino o quão feliz fica Rafael ao ler suas belas crônicas, como seu lindo irmão pequenino a quem você salvava das brigas e orgulhava num misto de confusão social por ser boa em tudo, inclusive no futebol. Por ser boa, mas boa no sentido mesmo da bondade, da generosidade, da compreensão, da forma impercetível que pisas o solo do meu coração, pela sinuosidade com que somes e apareces como um arco-íris atrás das nuvens. E eu aqui, chorando baixinho diante de um computador frio, mas chorando pela emoção que cresce dentro do peito, por termos tantas memórias, histórias, pelos desentendimentos nunca terem passado de uma linha, e se fechado dentro dela mesma como aspas de pessoas que humanamente erram, se magoam, e se amam. Nós como torcedoras na vida, torcemos sempre para tudo dar certo, para que os nossos desejos mais íntimos se concretizem, torcemos cotidianamente por pequenas coisas, para que se o sinal abra, para que os entes queridos não adoeçam e se adoecidos possam se curar, torcemos pelo fim das guerras, pela paz, por melhores condições de trabalho, estamos sempre na torcida e morremos tanto nessa vida, e voltamos a nascer. Retorno do meu silêncio protegida, protegida de torcer também por nós, de torcer para que não quedemos perdidas e sem emoção, par que todos os sentidos se manifestem e a gente retome em prece a nossa luta. Retorno do meu silêncio afagada pela tua luz, pela tua força e simples assim penso, amig@ é uma palavra que nunca dorme!!!
Por isso amiga, peço-te apenas que continue, continue a me acordar suavemente com a tua poesia.
Um beijo de gol em teu coração flamenguista no centro do maracanã.
Sempre sua, amiga-irmã,
Neu

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Precisava um pouquinho de carinho,
Quero-quero cantando
de mansinho,
bom dia madrugada.

Meu anjo

Me revisito
Nosso amor é esquisito.
Você me enche de mimo e flores.
Emite uma energia lunar.
Faz a antiga menina sorrir
e acreditar na mater eternidade,
no ventre crepúsculo,
no ócio do amor.
Na rosa que habita
as horas de espera,
as que não for.
Acordadas, dormindo,
vida noves fora indo.
A prova de tudo
é o encontro, fortuito,
um pensamento forte, aflito.
E tua alegria conservada nos a,
nos.
O flamboyant sorri,
florescendo,
te conserva para sempre meu anjo.|