terça-feira, 19 de abril de 2011

Uma tarde no Porto


Bebera um cálice e meio de vinho,
para pensar nesse homem,
casto e puro,
sem poesia.
Que não sabia o que fazer do seu dia
e ainda assim a deixara
vertiginosamente abalada.
Entrara-lhe pelas partes virgens,
pelas origens,
pelo desejo delicado.
Entrara-lhe pelos poros, pela boca,
pela roupa,
pelo sono suave a seu lado.
Não tinha nada para dizer ou acrescentar,
sua plenitude era ser e estar.
Como um copo vazio à beira do mar,
ondas, espumas e vagas ...
Mas seu corpo era redemoinho de prazer,
e ao tocar, tudo voltava.
Não sei nada sobre esse homem,
sua casa, codnome, sua flor exata, seu perfume,
seu delírio.
Sei apenas do seu brilho, suntuoso e menino.
Como meninos fôramos adolescentes
na entrega dos corpos,
no morrer da alma.
Se é triste ou feliz,
não sei,
compõe-me interjeições!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Sua pele macia, seu corpo claro como o dia,
misterioso como a noite.
A mim, nada pedia,
senão a sinestesia do toque, lento e profundo,
do conhecer mais antigo que há no mundo.
Em cada enseada,
uma volúpia,
meu corpo despido,
sentiu novamente a luta.
De corpos despidos,
de desejo, de beijo,
de vinho, de banho,
de cama, de manha.
O imperador de nome assustador,
não sei o que em mim viu,
talvez não viu nada,
e cego, manhã e madrugada,
se permitiu.
Um homem raro,
um doce,
um extravio.
Para dias tão tensos e fortes que se inflamam
cotidianos no meu rio.
Um homem gentil,
uma delicadeza,
uma beleza posta à mesa.
Um amante,
um amador,
um homem de praia
e de cor.
Um homem cachoeira e fogueira.
Uma tentação.
Entorpecidos de vinho e tesão,
burlamos as horas,
fizemos história de pele
e repetição.
Nereida