quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Tem dias que eu raspo a panela vazia dos meus sonhos e encontro naquela farofa macia a velha saudade dos tempos de outrora,
da barra nunca rendada do vestido envelhecido que minha mãe usava,
de tão velho brotava sobre ele musgos imaginários que acalentavam
minha infãncia dourada.
Tem dias que salto vazia pela poeira do tempo
e adentro correndo nos cômodos do que fui,
e me vejo brincando de ser grande e inalcansável,
grande como a lua ou como uma artista de cinema,
ou como a árvore madura da minha lembrança.
A rua deserta do meu interior,
ainda resiste em mim,
não como agora, deserta,
mas repleta de coisinhas sem fim.
Meninos em cima dos muros empinando pipas multicores,
bandeirolas em dias de festa,
gudes em tantas esquinas,
tudo isso rimando com o pôr-do-sol encantado que trago de cada olhar.
Nenhum deles se foi na minha fantasia,
pois banham perdidos em minha alma essa antiga alegria.
Olhando assim tudo agora,
o que vejo ?
Essa casa vazia, repleta de invisíveis poemas colhidos no meu dia-a-dia
e a panela que ainda hoje raspei com as sobras do que almejei,
foi também resto amolecido da criança que por maldade
um dia exilei.

Um comentário:

  1. Menina, você de fato é uma poetisa. Da tua alma saem versos lindos(tristes e alegres, mas profundos) que invadem o coração de quem te escreve agora e me transporta para várias viagens.
    A criança ainda está em você, porém, ela só aparece quando a "adulta balança" e te lança para algum lugar no fundo da tua memória e coração, parafraseando um pouco do grande poeta Milton Nascimento.
    Nunca pare de escrever!
    bjs,
    Patty

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